quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Raisin Brahms
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
sábado, 20 de dezembro de 2008
A simbologia de um sapato por Lejeune Mirhan
18 DE DEZEMBRO DE 2008 - 21h17
A simbologia de um sapato
por Lejeune Mirhan*
Todos viram. Vibraram. Na última segunda, dia 15 de dezembro, o jovem jornalista iraquiano, Muntader Al Zaide, arremessando seus dois sapatos em direção ao chefe do império americano, George W. Bush causou comoção no mundo todo. Indubitavelmente de forma positiva. As pessoas vibraram, sentiram-se representadas na pessoa desse combativo periodista árabe. Mas, os seus significados vão além do simples arremesso. Como veremos.
Al Zaide é jovem mesmo. Tem apenas 29 anos. Foi, ainda sob o governo de Saddam Hussein, presidente de uma entidade estudantil. Segundo a emissora Al Jazira, é membro do partido Comunista Iraquiano. Tem muitos irmãos e alguns deles mortos em combate na resistência contra a ocupação do Iraque por tropas estrangeiras desde 2003. Zaide é jornalista da emissora de TV Al Baghdadiya (cuja sede central fica no Cairo). Todas as reportagens da TV que ele faz na cidade de Bagdá ele conclui dizendo “da Bagdá ocupada”. A própria emissora que o emprega exigiu a sua imediata libertação, assim como o Sindicato dos Jornalistas do Iraque.
AL Zaide virou instantaneamente um herói nacional. E usou a sua arma mais potente tanto física como simbolicamente de que dispunha no momento: seus sapatos de sola de borracha pesados não teve dúvidas. Foi ficando cada vez mais irritado com a entrevista coletiva que Bush vinha dando, com suas mentiras habituais, ao lado do primeiro Ministro fantoche do Iraque, Nuri Al Maliki. Num determinado momento, decidiu arremessar em seguida, os seus dois sapatos contra Bush. A catatonia dos presentes e mesmo da segurança presidencial foi tamanha, que ele conseguiu inclusive tempo para atirar o segundo sapato.
A frase que ele proferiu, gravada ao vivo por todas as emissoras presentes foi: “É o seu beijo de despedida do povo iraquiano, seu cachorro. Isso é pelas viúvas, órfãos e pelos que foram mortos no Iraque”. E não precisava dizer mais nada. AL Zaide mostrava-se ao mundo como o vingador dos mais de 200 mil iraquiano mortos, representava o sentimento de uma nação destruída, desmontada, aviltada, vendida, entregue à sanha imperialista e com quase toda a sua infra-estrutura destruída e vendida ao setor privado (doadas na verdade).
Sua fama foi instantânea. Foi saudado no mundo inteiro. Passeatas saíram às ruas para exigir a sua imediata libertação. Circulou a informação de que um empresário saudita estaria oferecendo dez milhões de dólares por um dos sapatos que foram arremessados contra Bush. A foto de Al Zaide não saia de todas as TVs árabes e os jornais americanos publicaram o sapato “voador” passando rente à cabeça de Bush. Claro, os americanos procuraram minimizar o fato, dizendo que o mesmo não tinha importância alguma e que o jornalista não agiu em nome de nenhuma organização e não expressava a vontade do povo. Pura balela. Só se falava do ato de bravura praticado por um árabe contra o chefe do império mais odiado da história.
Os policiais que o prenderam, o espancaram brutalmente. Seu irmão, Maitham Al Zaide afirma que diversas de suas costelas foram quebradas e seu olho foi atingido por coronhadas de fuzil. Continua preso sem que nenhuma acusação lhe tenha sido feita e comunicado formalmente à justiça a sua detenção. Fala-se que poderia pegar de sete até quinze anos de cadeia por ter tentado agredir chefe de estado estrangeiro em visita ao Iraque.
Imediatamente uma rede de advogados formou-se para defendê-lo e exigir a sua libertação. A imprensa noticiou mais de cem advogados dispostos a prestar seus serviços gratuitamente para que ele possa ser libertado. O chefe da defesa de Saddam Hussein, Dr. Jalil Al Duleimi, será o provável defensor central de Al Zaide. Ainda continua sem nenhum contato tanto com seus familiares, como amigos e advogados, num claro desrespeito às tais normas mínimas de direitos humanos que os Estados Unidos tanto, e hipocritamente, pregam pelo mundo afora mas sem respeitá-las em lugar nenhum onde tem hegemonia.
A simbologia do sapato
Atirar um sapato em alguém, no mundo muçulmano é uma das maiores ofensas que se pode imaginar. É sabido que para adentrar a uma mesquita todos os seguires do Islã devem tirar seus sapatos na porta da Mesquita. Sapatos são os protetores dos pés contra as impurezas da terra. Boa parte das coisas ruins, várias doenças, adentram em nosso corpo pelos nossos pés. As solas dos sapatos retém grande parte dessas impurezas. Assim, a simbologia não poderia ser melhor. Uma imensa ofensa ao chefe do império. Além do que chamá-lo ainda por cima de “cachorro”, foi duplamente ofensivo.
Esse contexto é toda a simbologia que se poderia ter, de um final mais do que melancólico e dramático do governo mais impopular da história dos Estados Unidos. Que deixa o maior rombo de caixa na maior economia do planeta. Que deixa de legado para todo o planeta o modelo neoliberal, que foi devidamente enterrado com a maior crise da história financeira do mundo. O presidente mais odiado do mundo, que encerra seu mandato em mais 30 dias apenas, mas que ninguém agüenta mais e não se vê a hora de que tudo esteja terminado e que o novo governo tome logo posse, antes que todo o sistema se derreta.
Ainda com toda essa impopularidade, com toda a crise econômica, Bush insiste em manter as tropas de ocupação no Iraque até 2011! A um custo mensal de 10 bilhões de dólares, o maios de todas as guerras feitas pelos americanos desde o final do século 19. Pode-se caracterizar essa simbologia do sapato atirado na cara do presidente americano como o retrato fiel do fim de uma era. Uma era de tristezas, de crises, de dominação e truculência, de financeirização do capital. Uma era de ocaso, de fim do unilateralismo, de fim de humilhações a que os EUA impuseram ao mundo todo, em especial aos árabes.
A simbologia não poderia ser melhor. Mais do que vaias ao final do seu impopular mandato, Bush sai sob sapatadas de um jovem combativo comunista e jornalista iraquiano de consciência elevada. Naquela sapatada desferida contra o chefe do império, Al Zaide representava o mundo inteiro. Representava todos os que lutam contra as injustiças, contra as ocupações, contra os ataques covardes que o exército americano praticou e continua praticando contra o povo do Iraque. Se em 2003 a simbologia era contra Saddam – quem não se lembra da derrubada da sua estátua na praça central de Bagdá e as várias chineladas e sapatadas desferidas contra a sua imagem – agora ela se volta contra aquele que se arvorou em ter derrubado um ditador. Mas pagará para toda a posteridade de sua vida, os imensos erros que a sua gestão deixou para o mundo. O povo árabe que o diga. Podemos nos sentir, como disse Gilles Lapouge (Estadão de 16/1/8), de “alma lavada, aliviados”. Não é qualquer dia que se presencia dois sapatos sendo atirados contra o presidente dos Estados Unidos.
Certo mesmo está Lapouge com sua conclusão de que vencedor da guerra, Bush, se iguala ao vencido Saddam e o dito “vencedor” é agora vencido por uma sapatada de número 42 partindo de um iraquiano, de um árabe. Pode haver maior simbologia do que isso?
*Lejeune Mirhan, Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, Escritor, Arabista e Professor Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa, Membro da International Sociological
O jornalista e o episódio do arremesso
sábado, 13 de dezembro de 2008
socorro ! pra quem ?
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Classe Média - Max Gonzaga e Banda Marginal
Músicas dele no link Radiola Digital:
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
El ambicioso plan de Lula contra el cambio climático
El ambicioso plan de Lula contra el cambio climático
JUAN ARIAS 04/12/2008
Brasil, que pretende ser un interlocutor de prestigio y de peso en los foros internacionales, cuenta por primera vez con un ambicioso Plan de Cambio Climático, considerado por los analistas mucho más avanzado que el Protocolo de Kioto. Es la primera vez que el Gobierno de Luiz Inácio Lula da Silva ha decidido, con la movilización de 18 ministerios, elaborar un proyecto de defensa del medio ambiente para disminuir drásticamente la emisión de CO2, principal gas causante del efecto invernadero.
El Plan de Cambio Climático, firmado el lunes pasado por Lula y presentado a la conferencia de la ONU que sobre el tema se celebra estos días en Poznan (Polonia), ha sido bien acogido incluso por los ecologistas más críticos, aunque algunos consultados por este diario han sido prudentes, al recordar que Brasil se distingue por contar con leyes muy avanzadas que después acaban en agua de borrajas.
El Plan de Cambio Climático se ha hecho público justamente cuando se ha conocido que la destrucción de la Amazonia aumentó un 3,8% entre agosto de 2007 y julio de 2008, con un total de 11.968 kilómetros cuadrados de selva devastados, después de tres años de reducción de la deforestación.
Como es sabido, Brasil, con 20.000 incendios de selva amazónica por año, es uno de los países que más CO2 lanzan a la atmósfera. Es exactamente el cuarto país que más dióxido de carbono produce en el mundo. La Amazonia es responsable del 75% de los gases emitidos en todo el país. Según el ministro de Medio Ambiente, Carlos Minc, el protocolo firmado por Lula es como "cuatro Kiotos" juntos. El Plan de Cambio Climático abarca tres campos bien definidos: la lucha contra la destrucción de la Amazonia; el ahorro de energía y la alternativa al petróleo en los transportes. En este último campo se trata de aumentar un 10% el consumo de etanol en un año y evitar hasta 2017 la emisión de 500 millones de toneladas de CO2.
En lo referente a la deforestación de la Amazonia, el plan pretende reducirla entre el 20% y el 40%, evitando así la emisión de 4.000 millones de toneladas de dióxido de carbono y llegar a la meta de cero área destruida en 2015, plantando millones de árboles, tantos como se destruyen, en lugares hoy destinados a la ganadería y a la agricultura. Los productores que dejen de deforestar la selva permitiendo que pueda ser renovada serán indemnizados por el Gobierno.
También será abordado en el plan el asunto de la energía eléctrica, que pretende acabar con el desperdicio de un millón de megavatios anuales y reducir la emisión de CO2 en 120.000 toneladas a partir de 2009 y en 30 millones de toneladas hasta 2030. Se evitará la emisión de un millón de toneladas de CO2 mediante el cambio de un millón de calentadores eléctricos por otros que funcionan con energía solar.
Según el ministro Minc, Brasil, el país que cuenta con más agua dulce del planeta, con el mejor etanol, estaba hasta ahora en una posición defensiva y conservadora, mientras que, a partir de este Plan de Cambio Climático, todo eso va a cambiar. Lula ha pedido al ministro Minc que reúna a los 32 alcaldes de los municipios que más destruyen la Amazonia y a los gobernadores de los Estados involucrados para definir acciones conjuntas. Una de las iniciativas a discutir con ellos es la de estimular la conservación de la Amazonia con grandes incentivos del Gobierno para quienes se comprometan a dejar de destruirla.
En la redacción del plan han participado 18 ministerios —la mitad del Gobierno— incluso Hacienda y Asuntos Exteriores. Dichos ministerios seguirán ahora actuando para su realización. La secretaria de Cambio Climático, Suzana Kahn, recordó el lunes que el plan brasileño contra la contaminación ambiental va a realizar lo que nunca se había hecho en este país y que supera todas las expectativas. Según Kahn, entre los países en desarrollo sólo China e India cuentan con un plan semejante, pero el de Brasil, según ella, es el más concreto y consolidado.
Mientras tanto, el Gobierno se conforma con que la selva amazónica se destruya menos cada año. El fin de esta sangría, que ha acabado ya con el 20% de la mayor selva del mundo, es, por ahora, sólo un sueño.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Mr. Walker & Mr. Wheeler
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Es un mito que en los supermercados los precios sean más baratos que en una tienda de barrio
saiba mais
* * *
Entrevista a Esther Vivas
Manel Ros / La Directa
Esther Vivas es miembro de la Xarxa de Consum Solidari y una de las coordinadoras del libro Supermercados, no gracias, editado por Icària Editorial y que ya va por su segunda edición. Hablamos con ella para analizar el impacto de la distribución y el consumo de productos en nuestras vidas y el papel que juegan las grandes superficies comerciales. Además damos un vistazo a la situación del movimiento por un consumo responsable en nuestro país.
¿Qué papel juegan hoy en día los supermercados en nuestra sociedad?
Los supermercados ejercen un control total sobre la cadena de distribución de los alimentos. Nos encontramos que, muchas veces, son los supermercados los que acaban determinando lo que comemos, cómo lo comemos, en definitiva nuestro modelo de consumo y nuestro modelo de alimentación. Uno de los impactos más graves del modelo de distribución actual que generan los supermercados es el monopolio que ejercen sobre la cadena de comercialización de los alimentos. Por ejemplo, en el Estado español hay cinco empresas que controlan el 55% de la distribución de alimentos: Carrefour, Alcampo, Mercadona, Eroski y El Corte Inglés. Si a estos les añadimos las dos principales centrales de compra, nos encontramos que siete empresas controlan el 75% de la distribución de alimentos.
¿Qué es exactamente la Gran Distribución Alimentaría (GDA)?
Cuando hablamos de la GDA nos referimos a estas grandes empresas que controlan y monopolizan el mercado de la distribución de alimentos. Hoy en día la GDA sumada al modelo de agricultura genera, cada vez más, la desaparición de nuestros campesinos. Actualmente, en el Estado español poco más del 5% de la población activa es campesina y en Cataluña este porcentaje se reduce al 1%. Esto significa que nuestra alimentación queda en manos de estas multinacionales. Hay estudios que señalan que si este modelo de producción y distribución continúa, en los próximos quince años tendremos que importar el 80% de los alimentos. Es totalmente irracional, puesto que estamos consumiendo productos de la otra punta del mundo, con el impacto medioambiental que esto supone, cuando los mismos productos muchas veces se elaboran aquí.
¿Qué impacto tiene todo esto en las condiciones laborales?
Los trabajadores sufren en primera persona el modelo de distribución de alimentos y de producción. En los países del Sur las cadenas de distribución intentan establecer, cada vez más, un precio inferior y sacar el máximo beneficio. Esto implica presionar a sus proveedores en el Sur para que les sirvan el producto a un precio más bajo. Este proveedor, a la vez, se ve obligado a presionar a sus trabajadores, de tal manera que este modelo de distribución tiene un impacto directo en la producción y por lo tanto en las condiciones de trabajo en el Sur. Pero no sólo en el Sur, aquí también hay una precarización total de las condiciones laborales en los supermercados. Además, cuando los trabajadores se intentan organizar sindicalmente en las grandes superficies, se los hecha o se les persigue.
¿Sería posible una disminución de los precios actuales?
Los supermercados, a menudo, nos dicen que tienen los precios más baratos, pero esto es falso. Hay un estudio de la Coordinadora de Organizaciones de Agricultores y Ganaderos, que es el principal sindicato de campesinos a nivel estatal, que indica que los productos de las tiendas tradicionales son más baratos, siendo los supermercados un 11% más caros que éstas. Lo que sucede es que los supermercados llevan a cabo campañas de marketing donde anuncian algunos de los productos que en aquel momento tienen más baratos, pero la media de venta al público es más elevada.
Entonces, ¿el mito de que consumir en pequeñas tiendas de barrio es más caro es falso?
En la mayoría de supermercados la media de los precios de los productos no es tan barata como nos parece. En muchos casos, se trata de un mito. La gente considera que ir a comprar al supermercado es más barato y más cómodo, pero en la práctica cuando compras en un supermercado compras productos que en el fondo no son tan baratos.
¿Hasta qué punto el consumidor es libre de escoger lo que quiere y lo que no quiere?
En el modelo de consumo y de alimentación actual, las grandes cadenas ejercen un control muy grande y, de hecho, según varios estudios, el 80% de las compras se realizan en supermercados. Esto no quiere decir que nosotros no podamos rechazarlo. Hace falta partir de una toma de conciencia de los consumidores sobre qué implica la compra en estos establecimientos y, a la vez, es necesario también tomar conciencia política. Y, entonces, a partir de aquí, empezar a buscar alternativas.
¿Cuáles son estas alternativas?
Hay que optar por un modelo de consumo más crítico y responsable. Debemos de consumir aquello que realmente necesitamos. Pero a veces se puede caer en una cierta idealización del poder del consumidor y de la actitud en el ámbito del consumo. Creo que el poder del consumidor y la opción que escoge al consumir es importante, pero no se puede idealizar. También es necesario organizarse políticamente y de forma colectiva para generar cambios. En este sentido, es fundamental la organización política en el ámbito del consumo. Esto implica que el consumidor debe trabajar políticamente con otros sectores y colectivos que se ven afectados por este modelo de distribución como el campesinado, los ecologistas, las comunidades locales, los trabajadores y trabajadoras.
¿En qué momento se encuentra el consumo responsable en Cataluña? ¿Qué retos de futuro tiene por delante?
Ahora hay una creciente toma de conciencia por parte de la gente. El problema es que a veces esta toma de conciencia tiene un carácter despolitizado y es más resultado de una voluntad individual de consumir de forma más sana. El reto fundamental es la polititzación de estos sectores de consumidores y entender que un modelo de consumo alternativo sólo será posible con un cambio de paradigma y de sistema. Los retos de futuro pasan porque haya un trabajo político de cuestionamiento de este modelo. Se tiene que ir más allá y entender el consumo como el resultado del modelo y del sistema capitalista, y esto pasa por una organización colectiva de la gente.
Entrevista publicada en La Directa, nº87.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Meu nome é crise: por Frei Betto
14.11.08 - MUNDO |
Existe ameaça de crise do petróleo; governantes e empresários parecem em pânico frente à possibilidade de não poder alimentar 800 milhões de veículos automotores que rodam sobre a face da Terra.
No último ano, devido ao aumento do preço dos alimentos, o número de famintos crônicos subiu de 840 milhões para 950 milhões, segundo a FAO; mas quem se preocupa em alimentar miseráveis?
Meu nome deriva do grego krísis, discernir, escolher, distinguir - enfim, ter olhos críticos. Trago também familiaridade com o verbo acrisolar, purificar. Ao contrário do que supõe o senso comum, não sou, em si, negativa. Faço parte da evolução da natureza.
Todos nós, leitores, passamos pela crise da puberdade. Doeu ver-nos expulsos do reino da fantasia, a infância, para abraçar o da realidade! Nem todos, entretanto, fazem essa travessia sem riscos. Há adolescentes de tal modo submersos na fantasia que, frente aos indícios da idade adulta, que consiste em encarar a realidade, preferem se refugiar nas drogas. E há adultos que, desprovidos do senso de ridículo, vivem em crise de adolescência...
Resulto da contradição inerente aos seres humanos. Não há quem não traga em si o seu oposto. Quantas vezes, no trânsito, o mais amável cidadão arremessa o carro sobre a faixa de pedestres; a gentil donzela enfia a mão na buzina; o aplicado estudante acelera além da conveniência! Não é fácil conciliar o modo de pensar com o modo de agir.
Estou muito presente nas relações conjugais desprovidas de valores arraigados. Sobretudo quando a nudez de corpos não traduz a de espíritos e o não-dito prevalece sobre o dito. Felizmente muitos casais conseguem me superar através do diálogo, da terapia, da descoberta de que o amor é um exercício cotidiano de doação recíproca. O príncipe e a fada encantados habitam o ilusório castelo da imaginação.
Agora, assusto o cassino global da especulação financeira. Acreditou-se que o capitalismo fosse inabalável, sobretudo em sua versão neoliberal religiosamente apoiada em dogmas de fé: o livre mercado, a mão invisível, a capacidade de auto-regulação, a privatização do patrimônio público etc.
Dezenove anos após fazer estremecer o socialismo europeu, eis-me a gerar inquietação ao mercado. A lógica do bem-estar não lida com o imprevisto, o fracasso, o inusitado, essas coisas que decorrem de minha presença. Os governantes se apressam em tentar acalmar os ânimos como a tripulação do Titanic, enquanto a água inundava a quilha, ordenou à orquestra prosseguir a música...
Tenho duas faces. Uma, traz às minhas vítimas desespero, medo, inquietação. Atinge aquelas pessoas que não acreditavam em minha existência ou me encaravam como se eu fosse uma bruxa - figura mitológica do passado que já não representa nenhuma ameaça.
Minha outra face, a positiva, é a que a águia conhece aos 40 anos: as penas estão velhas, as garras desgastadas, o bico trincado. Então ela se isola durante 150 dias e arranca as penas, as garras, e quebra o bico. Espera, pacientemente, a renovação. Em seguida, voa saudável rumo a mais 30 anos de vida.
Sou presença frequente na experiência da fé. Muitos, ao passar de uma fé infantil à adulta, confundem o desmoronar da primeira com a inexistência da segunda; tornam-se ateus, indiferentes ou agnósticos. Não fazem a passagem do Deus "lá em cima" para o Deus "aqui dentro" do coração. Associam fé à culpa e não ao amor.
Acredito que este abalo na especulação financeira trará novos paradigmas à humanidade: menos consumismo e mais modéstia no padrão de vida; menos competição e mais solidariedade entre pessoas e empreendimentos; menos obsessão por dinheiro e mais por qualidade de vida.
Todas as vezes que irrompo na história ou na vida das pessoas, trago um recado: é hora de começar de novo. Quem puder entender, entenda.
[Autor de "Cartas da Prisão" (Agir), entre outros livros].
* Escritor e assessor de movimentos sociais
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
O Lado Escuro do Crescimento Agrícola Brasileiro
aqui
O Lado Escuro do Crescimento Agrícola Brasileiro
Isabella Kenfield *
Adital -
Violência, Motim e Pilhagem Ambiental na Amazônia
Enquanto a economia brasileira cresce devido ao aumento dos preços das commodities em todo o mundo, ao mesmo tempo crescem os conflitos pela terra na Amazônia - onde a fronteira agrícola está expandindo rapidamente. Às vezes, a região parece ingovernável para a administração do Presidente Luís Inácio "Lula" da Silva e o Partido dos Trabalhadores (PT), que enfrentam forte pressão para atender os interesses do agronegócio regional, nacional e internacional.
Desde que ganhou a presidência em 2003, o governo Lula tem estado envolvido num conflito entre seis grandes arrozeiros e 19.000 indígenas numa área de 1,9 milhões de hectares de cerrado e floresta banhada pelo rio Amazonas, chamada Raposa Serra do Sol, em Roraima, o estado mais setentrional, na fronteira com Venezuela e Guiana. Atualmente, o conflito pode provocar uma guerra civil na região.
Raposa Serra do Sol foi demarcada como reserva indígena contígua pela administração de Fernando Henrique Cardoso em 1998 sendo a lei sancionada por Lula em 2005. Desde então, os arrozeiros, que chegaram à área no início dos anos 90, têm sido interpelados por lei a saírem de suas fazendas, e lhes oferecido compensação financeira. Porém, estes têm recusado. Em vez disso, dado a pressão exercida pelos arrozeiros e outros interesses do agronegócio, atualmente o Superior Tribunal Federal (STF) está analisando a possibilidade de julgar a ação em favor dos arrozeiros de modo que lhes permita permanecer na reserva em "ilhas", em detrimento a lei vigente que definiu pela sua demarcação contígua.
O caso se faz histórico, que supostamente será decidido até o final deste ano, e preparará o terreno para o futuro dos direitos indígenas à terra no Brasil. O caso tem atraído à atenção de políticos de alto-nível, comandantes militares, organizações não-governamentais internacionais e também do Papa, opondo os interesses de expansão econômica frente aqueles de proteção dos direitos humanos e o meio ambiente.
Comandando as ações para mudar a demarcação, está Paulo César Quartiero, que é o maior arrozeiro de Roraima, ex-prefeito da cidade de Pacaraima (onde está uma parte da reserva Raposa Serra do Sol), e presidente da Associação dos Rizicultores de Roraima (ARR), um grupo poderoso de arrozeiros integrados no mercado agrícola nacional. Quartiero é um "ruralista": um membro de uma grande rede de influentes políticos municipais, estaduais e federais, que representam os interesses dos fazendeiros e o agronegócio nacional e internacional.
Em março, quando um grupo de indígenas começou a agir exigindo a demarcação integral da reserva Raposa Serra do Sol, o governo federal determinou à polícia federal que removesse Quartiero e os demais arrozeiros da área, os quais bloquearam a operação explodindo pontes na reserva. Em maio, quando alguns índios ocuparam pacificamente as terras controladas por Quartiero, este organizou uma milícia que os atacou com armas de fogo e explosivos, ficando dez indígenas feridos. Depois, a polícia federal encontrou 149 bombas na fazenda de Quartiero, deduzindo que foram produzidas com a colaboração de funcionários do Exército. Quartiero foi preso, sendo libertado após pagar fiança no valor de R$500,00.
Enquanto estava preso, Quartiero foi multado em quase US$16 milhões pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recuros Naturais (IBAMA) por destruição de terras sob proteção permanente, impedimento da regeneração natural do cerrado amazônico, uso de terras públicas federal sem autorização e atividades agrícolas em violação de sua licença. Ele recorreu às acusações. Em agosto, Quartiero foi incluído numa "Lista Suja" criado pelo IBAMA, onde constou os nomes de 38 candidatos à prefeito que comprodamente praticaram alguma atividade ilegal na Amazônia.
No dia 5 de outubro, durante as eleições municipais, Quartiero votou numa escola missionária chamada Surumu, destinada às crianças indígenas na reserva Raposa Serra do Sol. No dia 2 de setembro, a procuradora federal denunciou Quartiero por ter organizado um grupo de homens armados que, em 2004, invadiu Surumu e destruiu o prédio escolar, ameaçou educandos e funcionários da escola, e seqüestrou três padres que lá trabalhavam - quem, Quartiero manteve preso ilegalmente por dois dias.
Embora Quartiero tenha perdido em sua tentativa de se reeleger, a questão permanece: o Superior Tribunal deteminará que ele sai da reserva Raposa Serra do Sol? Se sim, Quartiero aceitará a decisão? Ainda mais, Quartiero será condenado e preso por seus crimes alegados? A região amazônica é notoriamente conhecida pela impunidade e violência.
"Quartiero continua livre e agredindo os indígenas. Semana passada ele destruiu placas da demarcação da terra indígena, destruiu carteiras e mesas escolares," relatou Marcy Picanço do Conselho Missionário Indígena (CIMI), uma organização nacional Católica que trabalha com as populações indígenas na Raposa Serra do Sol, conforme e-mail enviado ao Centro dos Estudos das Américas (CENSA) no final de setembro.
Alguns membros do Exército Brasileiro têm ameaçado rebelar-se contra o governo em apoio à Quartiero e outros arrozeiros. Em agosto, o Associated Press relatou que durante um encontro no Clube Militar do Rio de Janeiro, o Gen. Augusto Heleno Pereira, comandante da região Amazônica, atacou a política indígena do governo federal como "lamentável" e "caótica", e sugeriu que se fosse mandado remover os arrozeiros da Raposa Serra do Sol, não o faria.
"O Exército Brasileiro não serve o governo, mas o Estado Brasileiro", disse o Gen. Pereira. Enquanto o Gen. Pereira foi repreendido pelo Ministério de Defesa, Quartiero chamou-o de patriota, e a Assembléia Estadual de Roraima concedeu-lhe por unanimidade o título de Cidadão Emérito.
Vários políticos e residente não indígenas em Roraima apóiam a forte determinação de Quartiero e de outros arrozeiros permanecerem na Raposa Serra do Sol. "Uma grande parte da área de nosso estado já é terra indígena, e se a terra na Raposa Serra do Sol for demarcada, 47% de nosso estado será demarcado para os índios, e isso põe em perigo nosso desenvolvimento econômico", disse José de Anchieta Junior, governador de Roraima, a Al Jazeera.
Os arrozeiros são integrados no setor agrícola brasileiro, que é altamente capitalizado, usuário de mecanização cara e agroquímicos. Segundo a ARR, desde que chegaram à Raposa Serra do Sol, os arrozeiros têm expandido a produção em 20% ao ano. Segundo o CIMI, a produção dos arrozeiros é colhida e transportada por caminhão mais de 1000 quilômetros até Manaus. A partir de Manaus, o arroz é vendido e distribuído aos mercados nacional (e, possivelmente, internacional). O Ministério de Agricultura afirma que 70% do arroz produzido em Roraima é em Raposa Serra do Sol.
Porém, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a contribuição de Roraima à produção agrícola total do país é mínima: o estado produz só 1,3% do arroz no Brasil, e sua contribuição à produção de cereais, leguminosas e oleaginosas é de apenas 1% (neste caso, a região norte, a qual representa 45% do território nacional brasileiro, e que é quase totalmente floresta Amazônica, produz só 2,6%)
Existem quase 750 mil pessoas indígenas no Brasil, das quais 70% vivem na Amazônia. As famílias das cinco tribos da Raposa Serra do Sol são camponesas, cultivando feijão, milho e mandioca para auto-sustento e os mercados locais, caçando na floresta e pescando nos rios.
Segundo Picanço, uma reserva contígua é importante porque terra e território asseguram os elementos essenciais para a sobrevivência dos povos indígenas na Raposa Serra do Sol, e a "reprodução física e cultural das gerações futuras. Toda demarcação de terras indígenas no Brasil é de forma contígua... Isso é determinação da Constituição de 1988 e não tem como demarcar em "ilhas". Isso significa separar um povo de si próprio, significa condená-lo à morte."
Outros, também contrários à tentativa de mudar a demarcação da Raposa Serra do Sol, dizem que estabeleceria um precedente perigoso para os outros territórios indígenas ainda em processo de demarcação. "Se o Supremo Tribunal alterar a demarcação, eles irão pressionar para mudar outras demarcações, está em jogo a ampliação de áreas para plantio e as reservas minerais," disse o Deputado Adão Pretto (PT-RS), em entrevista recente para a CENSA.
"Os Ruralistas, desde o inicio de 2007 vem pressionando para alterar a forma da publicação da portaria demarcatória… Existem diversos decretos legislativos - alguns já aprovados na comissão de agricultura - para revogar portarias que criam novas reservas," disse Pretto.
Entre aqueles que apóiam o esforço pela alteração da legislação para a demarcação da Raposa Serra do Sol é o Deputado Abelardo Lupion (DEM-PR), quem-como Quartiero-é membro do partido de direita e reacionário Democratas. Atualmente, Lupion está sob investigação federal por suposta corrupção com vínculos à empresa transnacional Monsanto Corp., dos Estados Unidos. Em março, Lupion apresentou uma proposta que suspendeu a demarcação de uma reserva indígena no estado de Santa Catarina.
Várias outras demarcações de reservas indígenas também têm sido suspensas. No dia 16 de setembro, depois um encontro com o governador do estado, onde compareceram centenas de grandes sojeiros, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) suspendeu a demarcação de uma reserva no Mato Grosso do Sul. No dia 24 de setembro, o STF suspendeu a demarcação de uma reserva indígena na Bahia.
Em 2004, o jornal New York Times relatou que muitos indígenas da Raposa Serra do Sol sentiam-se traídos por Lula: "Eles lembram que o Senhor da Silva visitou aqui mais de uma década atrás, expressou apoio à luta dos indígenas, e prometeu que se ele chegasse à presidência, ele atenderia sua demanda."
Lula não ratificou a legislação para a demarcação da Raposa Serra do Sol até dois depois de ter sido eleito. O New York Times sugeriu que a traição de Lula foi resultado do jogo político do PT para consolidar seu poder: Logo depois de Lula ser eleito, Flamarion Portela, então governador de Roraima, trocou de partido político juntando-se ao PT. Em troca, é possível que o PT tinha feito um acordo com os arrozeiros.
O fato é que a ação atual no STF sobre Raposa Serra do Sol, foi iniciada pelo Senador de Roraima Augusto Botelho - um membro do PT. Botelho propôs a ação quando era do Partido Democrático dos Trabalhadores, e se tornou membro do PT em 2002. Segundo Picanço, Botelho "deveria, por coerência, sair do PT ou o PT deveria convidá-lo a retirar a ação ou deixar o partido. Mas, infelizmente, ele continua no PT, contradizendo a sua orientação nacional, que é de apoio aos povos indígenas".
"A posição do PT nos estados do Norte sofre muita pressão dos ruralistas," reconhece o Dep. Pretto. "No caso especifico de Roraima, existe toda a pressão dos moradores das chamadas ilhas - municípios - que serão extintos com a demaração da reserva…Porém, a posição oficial do PT é pela demarcação como está. Esta posição foi debatida na executiva."
Vários no PT apóiam a luta pela terra indígena. Várias vezes, o Ministro da Justiça Tarso Genro tem expressado apoio para demarcação contígua da Raposa Serra do Sol. Numa decisão sem precedentes, em 2007, Genro apoiou a demarcação de 11.000 hectares de terra para comunidades indígenas no Espírito Santo, requerendo à Aracruz Celulose S.A.- uma empresa transnacional, maior produtora de celulose de papel no mundo-renunciar uma grande área de suas monoculturas de eucalipto.
"O problema é que o poder judiciário é mais reacionário do que o executivo," diz José Maria Tardin, um membro da Via Campesina, um movimento internacional para soberania alimentar, que tem expressado solidariedade com os povos indígenas da Raposa Serra do Sol.
O STF previa tomar uma decisão final sobre o caso Raposa Serra do Sol no dia 27 de agosto. O Desembargador de Justiça Carlos Ayres de Britto foi o primeiro a votar a favor de uma reserva contígua. Mais tarde, no mesmo dia, o Desembargador de Justiça Carlos Alberto Menezes Direito pediu mais tempo para tomar sua decisão, e adiando assim a decisão final. Uma semana depois, Quartiero e os outros arrozeiros colheram 1.500 toneladas de arroz na Raposa Serra do Sol com valor de R$100 mi.
"Alguns dizem que será 7 a 4 a favor de mudar a demarcação, mas nada é certo", diz Pretto. "Com o relatório do Britto, agora a pressão dos ruralistas sobre os outros Desembargadores será maior."
Se o STF mantiver a legislação para uma reserva contígua na Raposa Serra do Sol, e o governo federal convencer os arrozeiros saírem daquele território, o caso servirá para avançar os direitos humanos e a cidadania das populações indígenas no Brasil, reduzirá a impunidade na região e o reinado poderoso do agronegócio. Ainda mais, ajudará no impedimento à pilhagem daquele que é o ativo ecológico mais importante do planeta para a estabilidade climática: a floresta Amazônica.
O Brasil é um dos dez maiores paises emitentes dos gases de efeito estufa (GE), e a causa primária dos GE no país é o desmatamento. Em agosto, o IBGE divulgou que o ritmo de desmatamento na Amazônia Legal aumentou em 70% em 2007, provocando uma perda de 2,4% da floresta. Como os preços dos alimentos e agrocombustíveis cresceram, os fazendeiros na Amazônia foram estimulados a ampliar o desmatamento para aumentar seus campos de cultivo, empurrando a fronteira agrícola ainda mais ao norte dentro da floresta.
O apoio ao direito dos indígenas à terra pode ajudar a conter o ritmo de desmatamento na Amazônia. Inclusive, das 123 reservas que ainda estão por ser demarcadas, o Brasil possui outras 611 reservas que totalizam quase 13% do território nacional, e 70% das terras indígenas (das quais a Raposa Serra do Sol representa 4%) estão na Amazônia. Eleanora de Paulo Dias, porta-voz da FUNAI, informou a CENSA, de seu escritório em Brasília, que "a conexão entre as terras indígenas e a proteção do clima é fundamental. As terras indígenas são mais protegidas do que as reservas de conservação".
Alternativamente, se o STF decidir a favor dos arrozeiros, e o Quartiero continuar se divertindo impunemente, não só os indígenas da Raposa Serra do Sol sofrerão as consequências; todos sofrerão.
[© 2007 CENSA: Center for the Study of the Americas
2288 Fulton St., Suite 103, Berkeley, CA]
* Associada ao Centro de Estudos das Américas (CENSA), em Berkeley, California, e tem escrito amplamente sobre conflitos agrários no Brasil
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Novo estudo comprova ação humana no aquecimento da Antártida
Novo estudo comprova ação humana no aquecimento da Antártida
A evidência do aquecimento global causado pela emissão de dióxido de carbono e outros gases poluentes foi encontrada em todos os continentes. A exceção, até agora, era a Antártida, que contém 90% dos gelos do planeta e 70% da água doce.
O continente antártico, 1,4 vez maior do que o dos Estados Unidos, tem apenas 20 estações de coletam informações climáticas. Por esta e outras razões, sabe-se pouco sobre ele. Os cientistas observam que estão esquentando as zonas menos frias, como a região ocidental e a Península Antártica, cujo extremo norte se aproxima da América do Sul e é lar de milhões de focas, pingüins e uma grande variedade de outras aves. Mas a gélida porção oriental, com uma cobertura de gelo de 2.226 metros de espessura, não experimentou mudanças significativas de temperatura nos últimos 50 anos, e inclusive mostrou evidências de esfriamento. Por isso, foi impossível tirar conclusões sobre o efeito dos gases que provocam o efeito estufa.
A Quarta Avaliação do Grupo Inter-governamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) concluiu que a Antártida era o único continente onde as mudanças de temperatura antropogênicas não foram detectadas, possivelmente por dados e observações insuficientes. O trabalho de Gillett “prova de maneira convincente o que sugeriam estudos anteriores, que os humanos contribuem para aquecer tanto a região ártica quanto a antártica”, disse o cientista Andrew Monaghan, do Centro Nacional dos Estados Unidos para a Pesquisa Atmosférica, e colega próximo da equipe pesquisadora. O grupo de Gillett utilizou informação coletada entre 1990 e 2000 nas 20 estações instaladas na Antártida, e criou quatro modelos em computador para chegar às suas conclusões.
Um destes modelos inclui o impacto de gases de efeito estufa e outro não. O primeiro apresentou resultados que coincidem com as temperaturas observadas até agora, afirma a pesquisa “Atribution of polar warming to human influence” (Atribuição do aquecimento polar à influência humana). “Se pegarmos a temperatura média de toda a Antártida, encontraremos um aquecimento” de uns poucos décimos, disse Gillett ao Terramérica. Porém, foram encontrados aumentos de temperatura de até três graus centígrados na Península Antártica desde 1950, dos maiores registrados no planeta, disse Monaghan. A temperatura média mensal ali varia entre um grau e 15 graus abaixo de zero.
Várias grandes geleiras da região ocidental estão derretendo e elevando o nível do mar pelas correntes oceânicas mais quentes que tocam e desgastam as barreiras de gelo. As temperaturas médias nessa área ficam entre -12 graus e -35 graus. “Este derretimento tem conseqüências no aumento do nível do mar”, afirmou Gillett. Em 2002, afundou a enorme barreira de Larsen B, na península. Media 3.250 quilômetros quadrados, acrescentou Gillett. Os pesquisadores alertam que os dados indicam um aquecimento ao longo da costa da Antártida oriental e esperam que o fenômeno sofra uma aceleração.
Gillet apresentou a hipótese de que certo esfriamento do Pólo Sul pode ser causado por uma acentuada perda de ozônio na atmosfera polar, atribuída à contaminação. O cientista acredita que sua pesquisa permitirá delinear uma imagem mais precisa do futuro da Antártida. Os cálculos mostram que os gelos antárticos que afundarem no próximo século poderão ajudar a elevar o nível do mar em 70 metros. “Não veremos nada catastrófico nos próximos cem anos se as coisas seguirem o ritmo atual. Contudo, o derretimento pode ter uma aceleração”, alertou Monaghan.
Os informes do IPCC não incluíram previsões completas e precisas sobre a elevação do nível do mar por falta de dados sobre a Antártida. Suas previsões foram de 18 e 59 centímetros, disse Gillett. Em janeiro, o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, exortou seus colegas a estudarem a Antártida e a Groenlândia. “Minha esperança é que o próximo informe do IPCC, se é que vai existir, possa fornecer informação muito melhor sobre a possibilidade de essas duas grandes massas de gelo estarem derretendo, o que seria aterrador”, disse Pachauri.
A pesquisa sobre a Península Antártica aumentou. Este ano, Eric Rignot, da Universidade da Califórnia, estudou imagens obtidas via satélite, entre 1996 e 2006, e encontrou mostras claras de derretimento na região ocidental e na Península. A Antártida ocidental perdeu 132 bilhões de toneladas de gelo em 2006, enquanto há uma década a perda registrara 83 bilhões de unidades, disse Rignot. No mesmo ano, na Península desapareceram 60 bilhões de toneladas. Não fosse por um simultâneo acúmulo de gelos na zona oriental, o nível do mar teria aumentando 0,5 milímetro, disse Rignot.
Os estudos que mostram a atividade humana como responsável pela mudança climática podem produzir esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, disse ao Terramérica a especialista Meg Boyle, da organização ambientalista Greenpeace. “Nos Estados Unidos temos uma pequena porcentagem da população mundial, mas produzimos 25% da poluição que influencia na mudança climática. É hora de colocarmos um limite”, acrescentou. Tomara que o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, mostre vontade de conseguir acordos sobre mudança climática, concluiu.
Fonte: Agência Envolverde