29.04.09 - BRASIL
Em Alagoas,
barragens subterrâneas são opções
para convivência com o semiárido
Em Alagoas, os produtores rurais contam com mais uma tecnologia social favorável à convivência com o semiárido: as barragens subterrâneas. O clima marca o Nordeste brasileiro (8 estados), além do Norte de Minas Gerais, que fica no Sudeste, afetando mais de 35 milhões de pessoas.
Atingidos por longos períodos de estiagem, o poder público e os moradores da região buscam diversas soluções, como barragens superficiais (açudes) e, de forma mais forte nos últimos anos, as cisternas de placas.
Após ter contato com a nova tecnologia em outros estados, o Movimento Minha Terra (MMT) se dispôs a levar os conhecimentos para os produtores rurais de assentamentos nos municípios de Cacimbinhas e Dois Riachos, no Sertão alagoano.
A partir de uma primeira experiência, em 2007, de construção de uma barragem subterrânea com recursos próprios, a ONG apresentou uma proposta ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB). O projeto Barragem Subterrânea para Produção Agroecológica no Semiárido, aprovado ano passado, deu apoio para a construção de quatro unidades.
No começo do projeto, depois de mobilizar 25 famílias com a cooperação de associações de trabalhadores rurais, foram escolhidas as beneficiadas.
As "ilhas úmidas", como são chamadas, são depósitos construídos na faixa de terra conhecida como aluvião (local onde repousam os sedimentos dos rios). O presidente do MMT, Claudeílson Monteiro de Araújo, explica que a "arquitetura" desse tipo de barragem utiliza a técnica de interceptação do fluxo de água que corre abaixo da superfície de rios.
Os resultados alcançados com essas estruturas têm demonstrado maior capacidade de armazenamento no período chuvoso da região, que normalmente dura quatro meses - de março a junho.
O procedimento consiste na escavação de uma vala perpendicular ao sentido do curso d’água, que é coberta por uma resistente lona plástica. Com a passagem de água por cima da terra, a água infiltrada é retida, funcionando como reservatório. Essa água abastece cacimbas feitas dentro da própria barragem, também conhecidas como "poços amazonas".
As principais vantagens são a acumulação de água com reduzida evaporação, menor risco de salinização a liberação de áreas agricultáveis, normalmente cobertas com água nos reservatórios de acumulação superficial. Outro ponto positivo é baixo custo exigido para construção.
De acordo com Claudeílson de Araújo, esses reservatórios são utilizados no período mais seco do ano, que na região chega a estender-se por nove meses. A água é destinada à irrigação de fruteiras e verduras, ao consumo humano e à produção de pastagem para os animais, em especial o capim de corte e a palma forrageira.
Ele acrescenta que as famílias também são incentivadas e orientadas para montar hortas caseiras, ainda que não sejam utilizadas como sustentação econômica. A preocupação do coordenador do projeto é a recorrente migração dos agricultores nos períodos de seca. "Muitas vezes, eles abandonam as terras para ir trabalhar no Sudeste", afirma Claudeílson.
Outra base da proposta da ONG é o desenvolvimento de práticas agroecológicas junto aos sertanejos. "Essa mudança é o mais difícil para que eles saiam dos métodos convencionais", observa.
O presidente da entidade diz que está em fase final de produção um vídeo com o relato dos agricultores que montaram as estruturas. Outro documentário deve ser realizado após a quadra invernosa para que seja feito um comparativo entre "o antes e o depois" da instalação das barragens subterrâneas.
Além do projeto apoiado pelo BNB, o Movimento Minha Terra mantém uma parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas para trabalhar educação ambiental e ações de preservação por meio do projeto Agroflorestação.
As ações procuram despertar a população dos assentamentos para a importância da biodiversidade e da vegetação da Caatinga e Mata Atlântica.
As matérias do projeto "Boas Ideias em Comunicação" são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).