sexta-feira, 29 de maio de 2009
encerrando o mês
sábado, 23 de maio de 2009
Martha Argerich plays Bartók's Piano Concerto nº3
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Nick Vujicic : Perspectiva, visão e escolhas
sábado, 9 de maio de 2009
Todo mundo é melhor do que pensa que é
''Todo mundo é melhor do que pensa que é''
Cerca de um mês antes de sua morte, o diretor Augusto Boal
concedeu esta entrevista em Paris
Taíssa Stivanin, PARIS
No dia 25 de março, o dramaturgo, diretor e ensaísta Augusto Boal recebeu na sede da Unesco, em Paris, o título de Embaixador Mundial do Teatro. Poucas horas antes, no hall de um hotel na praça da República, na capital francesa, o criador do Teatro do Oprimido concedeu uma de suas últimas entrevistas. Boal, que morreu dia 2, no Rio, aos 78 anos, tinha chegado a Paris um dia antes de nossa conversa. Fui buscá-lo no quarto. Mancando, ele contou que tinha ordens médicas para não deixar o hospital, mas disse que não perderia a oportunidade de receber o prêmio por nada. Se o dramaturgo estava fisicamente tão debilitado, isso só ele sabia. Seu espírito e sua energia continuavam intactos. Bem-humorado, falante, gesticulando muito, e sem pedir nem um copo de água, o dramaturgo conversou sem se cansar. Desse papo, ficou a mensagem que resume sua vida: "Todo mundo pode fazer melhor do que acha que está fazendo." Seu teatro é a descoberta dessa capacidade.
O sr. acompanha o trabalho do Teatro do Oprimido em Paris?
Em Paris acompanho pouco. Meu filho, Julian Boal, integra um grupo que se chama Grupo do Teatro do Oprimido. Existem vários lugares na França que fazem o teatro do oprimido. O movimento Planning Familial (Planejamento Familiar) o utiliza há muitas décadas em seu trabalho. As escolas e as ONGs também. Acompanho como posso. No site internacional do Teatro do Oprimido, existem mais de 50 países nomeados e 200 grupos. Mesmo no Brasil, ele está presente em todos os Estados, menos no Amazonas, Pará e Roraima, pois custa muito caro desenvolver um projeto por causa da distância. O volume de trabalho é imenso, na Índia, na África. Quando algum grupo introduz uma técnica diferente, a gente tenta seguir. No mais, a gente aplaude.
O sr. vai muito à Escandinávia? Como o trabalho se desenvolveu lá?
Começou na Suécia há 30 anos. Tinha amigos exilados, que nos anos 70 me convidaram para fazer uma oficina. Fui voltando nos anos seguintes. Durante muito anos fui para a Suécia e a Noruega. Mas agora canso muito se pego avião sempre. Meu filho leva o trabalho adiante. O Julian, segundo ele mesmo, faz o mesmo trabalho que eu, mas muito melhor (risos).
Ele acreditou no potencial dele, e essa responsabilidade é sua...
Exatamente, você matou a charada. Dizia para o Julian que ele era melhor do que pensava, ele acreditou. E me respondia: "Sou mesmo." Julian trabalha muito no exterior. Na África, na Ásia. Na Índia, existe a Federação Indiana do Teatro do Oprimido. Em 2006, ela reuniu 12 mil pessoas numa praça em Nova Déli. Foi muito lindo de ver, porque 80% eram mulheres, vestidas com seus saris coloridos.Ver aquelas mulheres resolutas, fortes, gritando slogans, cantando hinos sobre teatro, sobre Arte, foi muito bonito. A Arte, afinal, pertence a elas. O Teatro do Oprimido está espalhado por toda a Índia, pelo Paquistão, pelo Sri Lanka. No Sri Lanka, quando houve o tsunami, eles faziam o arco-íris do desejo no campo de refugiados para tentar entender como ficou a cabeça das pessoas depois de um desastre daquelas proporções. É o que que queremos. Criar multiplicadores criativos. Multiplicar um sistema que já existe.O que importa é para quem você faz. Como aplico esse método para essas pessoas, nesse lugar e com esses problemas?
Como está a aplicação do método nos presídios brasileiros?
A cadeia é o único lugar onde temos problemas para trabalhar, por conta de tanta burocracia. É um trabalho que está parado atualmente, mas tivemos experiências maravilhosas. Havia uma prisão no Estado de São Paulo que parecia um leprosário, ninguém chegava perto de ninguém. Conseguimos trazer os prisioneiros para o meio da praça, usando o teatro-fórum, como se fossem cidadãos livres. Eles entraram em cena e contracenaram com os outros. Deu certo. Os presos aceitaram que estavam pagando pelos crimes que cometeram e voltariam a viver em sociedade se fosse possível. Uma vez fizemos uma peça onde um preso contava sua história, trágica. Ele era inocente e estava preso há dois anos porque não sabia como se defender. Durante sua apresentação, coincidentemente, tinha uma juíza na plateia. Espantada, ela prometeu o alvará de soltura dele e cumpriu. Situações como essas, existem muitas. Numa cadeia paulista onde aplicamos o teatro legislativo, por exemplo, conseguimos fazer creches para as detentas que tinham filhos. O problema é a burocracia. Os funcionários do Depem, órgão que administra as cadeias, são impenetráveis. Na cabeça deles não entra nada. Não compreendem que o que está na lei tem de estar subordinado a um bem maior. Sei que a lei deve ser obedecida. Existe uma lei que diz: é proibido pisar na grama. Não quero pisar na grama, porque acho que é uma lei justa. Mas se uma criança está sendo atacada por um cachorro, você tem de pisar na grama, dar um pontapé no cachorro e salvar a criança. Violar a lei às vezes é necessário. Trabalhamos também com o Ministério da Cultura em 16 Estados, e com o Ministério da Saúde, nos Capes (Centros de Atendimento Psicossocial). Tentamos enquadrar o delírio patológico no delírio estético. Afinal, teatro é uma forma de delírio, uma forma de alucinação.Também trabalhamos em comunidades violentas. A violência ocorre pela obtusidade das pessoas. Alguns continuam nesse caminho, mas outros felizmente entendem que o diálogo é a forma soberana da comunicação.
No contexto da globalização, da sociedade de consumo, o seu método pode ser aplicado da mesma forma que há 30 anos ou precisa ser readaptado levando em consideração as mudanças sociais?
O Teatro do Oprimido se torna mais útil ainda nesses novos tempos. Ele é o contrário da globalização, faz parte da mundialização. A globalização é uma pirâmide da desigualdade. No topo, ficam os ricos, as pessoas desonestas, responsáveis pelo crash da bolsa e a crise mundial. A globalização é uma fagocitação, esses ladrões todos querem comer os outros. É uma coisa antropofágica. A mundialização não. Se você tem um saber, você tem de espalhar esse saber. Não pode ser aquele sábio que vive no topo de uma montanha. Isso me lembra uma piada mineira. O homem pergunta: "Senhor sábio, o que é a vida?" O sábio responde: "Meu filho, a vida é um rio." "Um rio?", desconfia o homem. O sábio vacila: "Uai, não é não?" Esses velhos sábios não me interessam. Temos de ser generosos e solidários com os outros e deixar que eles usufruam do seu saber.
Poderia esclarecer um pouco as derivações do Teatro do Oprimido? Teatro Legislativo, invisível....
O Teatro do Oprimido é uma grande árvore. Essa árvore tem as raízes na ética e na filosofia de humanizar a humanidade. É a nossa base. Depois começam os jogos, para restaurar a capacidade criativa das pessoas. Em seguida, vêm os diversos ramos da árvore, como o teatro invisível, o teatro legislativo, o arco-íris do desejo, que serve para exteriorizar as opressões internalizadas. O mais usado é o teatro-fórum, que significa colocar um problema e discutir teatralmente esse problema. É a forma mais difundida, porque produz resultados mais imediatos. O arco-íris do desejo requer uma reclusão maior, em grupos pequenos. Trata problemas individuais. Todas as formas de teatro são úteis, têm uma função. O sucesso extraordinário desse teatro, no mundo todo, se deve à revelação de que o teatro não é o palco, não são as luzes, não é um texto escrito necessariamente, não é iluminação, não é nada disso. Teatro somos nós. Cada um de nós traz em si mesmo um ator. Nesse momento, por exemplo, estou sendo ator. Estou agindo e ao mesmo tempo sendo espectador. Estou ouvindo o que estou dizendo, minha voz, estou pensando no que vou dizer. Teatro é isso. Você percebe que pode avançar num sentido que não é aquele previsto pela sociedade, tecnicamente e mecanicamente. Você sai da moldagem e passa a ser você mesmo, descobrindo coisas insuspeitadas. Que você é melhor do que você pensa que é. Todo mundo é melhor do que pensa que é. Todo mundo é mais capaz de fazer o que já está fazendo. Meu teatro é a descoberta dessa capacidade.
O que ainda falta fazer?
Já fiz muita coisa e tenho intenção de fazer muitas mais. Estou terminando um livro que se chama As Estéticas do Oprimido. Muita gente fala de diversidade cultural, o que defendo. Mas quando pensa em estética, pensa em uma só. Como ser diverso culturalmente, com uma só estética, se a estética é produto de uma cultura? Por exemplo, aquele pintor norte-americano, Jackson Pollock. Nos Estados Unidos, todo mundo acha que ele é um gênio. Leva uma pintura dele para Bangladesh e pergunta o que vão achar. Tudo isso para dizer que os americanos criam a estética deles, da Guggenheim Foundation. Tudo isso para dizer que não existe uma soberana estética à qual todos nós devemos nos curvar e obedecer.
No ano passado, seu nome teria sido cogitado para o prêmio Nobel da Paz, como recebeu a notícia?
Não tenho nada com isso (risos). Achei muito simpático, principalmente porque recebi indicações dos cinco continentes. Até na Austrália, que é do outro lado do mundo, recebi cartas de apoio.Pelo que soube, o que ficou faltando foi o apoio de algum Prêmio Nobel. Não tem importância, não me preocupo se vou ganhar ou não neste ano. Mas tenho muito orgulho de ter sido indicado.
E sua história com a química?
Sou engenheiro químico porque meu pai queria que eu fosse doutor e teatro não dava doutorado na época. Tinha uma namorada de quem eu gostava muito e ela foi fazer Química. Fui atrás. Entrei na faculdade e ela não, acabou fazendo Letras. Eu não era o primeiro aluno da sala, mas não era o último. Ficava na média. Mas já esqueci tudo. Só lembro que a fórmula da água é H2O.
Esta entrevista com Boal foi concedida originalmente à Rádio França Internacional (RFI)
Livro inédito
TESTAMENTO: O Teatro do Oprimido, de Boal, é uma metodologia cênica que ele desenvolveu nos anos 70 e combina drama e ação social. Poucos dias antes de morrer, o embaixador mundial do teatro pela Unesco entregou à editora Garamond o texto final do seu novo livro, A Estética do Oprimido. Já considerado o testamento artístico de Boal, o livro sintetiza suas principais concepções sobre arte e deve ser publicado ainda em 2009. Boal abre o livro com uma dedicatória: "Sinto sincero respeito por todos aqueles artistas que dedicam suas vidas à sua arte - é seu direito ou condição. Mas prefiro aqueles que dedicam sua arte à vida."
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Crise deve ajudar a elevar anúncios em mídias digitais
Valor Online
05/05/2009 20:40
SÃO PAULO - A desaceleração econômica gerada pela crise e a necessidade de reduzir custos deve ajudar a aumentar a receita com anúncios na internet. Como as inserções em papel e televisão são muito mais caras do que banners ou equivalentes na mídia eletrônica, a Havas Digital acredita que uma migração será inevitável.
Esse cenário inesperado deve mais do que triplicar a participação da internet e intermeios no total de recursos destinado à publicidade nos próximos dois anos.
Hoje no Brasil, a internet tem apenas 3,54% do bolo de aportes em publicidade. Para a Gabriel Buruaga, co-presidente da Havas Digital, o natural seria um salto para 8% nos próximos dois anos, conforme tendência já verificada em outros países. Mas com a crise, essa fatia pode chegar a 12% ou 13% no mesmo período.
Já em 2009, essa participação deve avançar para 5%. "A crise deve contribuir para acelerar esse ritmo", diz. Não quer dizer que o setor será muito favorecido, mas que num cenário de queda nas receitas de todos os meios de publicidade, a mídia online deve se garantir com crescimento, avalia ele.
A previsão para este ano é de que o faturamento da mídia online global cresça 10%, enquanto o conjunto de outras mídias registre uma queda de 8%. Dados divulgados pela American Journalism Review dão conta de que o potencial de crescimento também é justificado pelo tempo de exposição dos internautas brasileiros, que lideram um ranking global com 23 horas de navegação por mês. Para Buruaga, essa fatia de 3,5% não corresponde a essa exposição. Em países anglo-saxões a internet já tem 30% de participação em receitas de publicidade. Na Europa, a fatia chega a 25%.
André Zimmermann, diretor-geral da MediaContacts, agência de marketing interativo do Grupo Havas, diz que outro fator a contribuir para isso, é o aumento do acesso à internet, inclusive por banda larga, nas classes C e D, o que abre um mercado que não vinha sendo explorado por algumas empresas.
Também é visto como vantagem a capacidade de medir a resposta em publicidades desse tipo, o que tende a convencer muitos diretores de marketing a elevar ou se lançar nos novos meios de exposição.
"Ninguém mais questiona necessidade de anunciar na internet. A questão agora é como estar na internet", diz Ricardo Reis, diretor-geral da Havas Digital no Brasil.
Por aqui, a estimativa de mercado é de que a receita com anúncios online deve aumentar de 25% a 30% neste ano, depois de ter avançado 40% no ano passado, inclusive na operação global da Havas Digital.
(Bianca Ribeiro | Valor Online)
O Bolsa Família e o fogão a gás
06/05/2009 - 07:57
Atualizado
Por Fernando Gomes
Uma certa distribuidora de gás precisou realizar, em meados de 2008, investimentos de um certo valor. Parte dele, ou mais precisamente, R$ 160 milhões, destinavam-se a aquisição de 8.000.000 (oito milhões) de botijas de gás, tanto para substituir aquelas cuja vida útil se esgotara, como para repor as botijas compradas por novos consumidores.
Cada botija custa R$ 200 no fabricante e é repassada ao consumidor final por um preço que varia entre R$ 40/R$50 ( a diferença é subsídio da distribuidora de gás) Cada botija vendida tem um pay back de 4 anos.
Dos 8 milhões de botijas, 2.500.000 destinavam-se exclusivamente a região Nordeste, para repor vasilhames vendidos sem retorno.
Tradução: 2.500.000 de famílias deixaram de consumir lenha para consumir o gás GLP, exclusivamente na região nordeste.
A distribuidora identificou o que estava por trás desse movimento:
O cartão do Bolsa Família serve, entre outras coisas, para comprovar renda. assim, o despossuído que antes dependia de lenha prá cozinhar, para desespero do Ali Kamel consegiu ir até a loja e comprar um fogão por R$ 200, em 18/24 meses, e pela primeira vez comprar um bujão de gás. Daí a necessidade de reposição de 2.500.000 de unidades. Registre-se que isso não aconteceu de repente, foi entre 2003 e 2007.
Por Roberto São Paulo;SP
Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liqüefeito de Petróleo – Sindigás, 24/03/2009
Liquigás lança botijão de 8 kg em Sergipe
A Liquigás Distribuidora - empresa de distribuição de GLP da Petrobras Distribuidora - lançou hoje (19/03), em Aracaju, o novo botijão com 8 kg de capacidade, o P-8.
A empresa investiu R$ 13,5 milhões no desenvolvimento do produto, que entra no Estado como uma opção aos consumidores, em especial para os consumidores com baixo poder aquisitivo e para os que têm necessidade de um consumo reduzido de GLP………………
………….O botijão de 8 kg também é uma alternativa mais econômica, já que a estimativa é que seja vendido por valor entre R$ 20,00 e R$ 21,00, uma diferença relevante se comparado ao botijão de 13 kg, que custa em torno de R$ 30,00……………….
……….Com o novo produto, já lançado em São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Piauí, a Liquigás espera disponibilizar no estado de Sergipe o GLP para parcela significativa da população, das classes C, D e E, com economia e com a qualidade inerente aos produtos Liquigás.
A companhia tem como foco atender 428.544 domicílios pertencentes a famílias das classes C, D e E, e conforme dados do IBGE, 94,5% da população do estado, estimada em 1.962.526 pessoas, mora em casas………………
sábado, 2 de maio de 2009
Peça da Nobel Elfriede Jelinek faz furor ao comentar crise financeira
A peça "Contratos do comerciante" é um comentário sobre a crise financeira, sua autora é prêmio Nobel, e a montagem em Colônia já consta como um das grandes da temporada. Uma experiência pessoal de Cornelia Rabitz.
Na realidade, foi inspirada num escândalo bancário na Áustria que Elfriede Jelinek escreveu sua peça Kontrakte des Kaufmanns (Contratos do comerciante) – uma prestação de contas com instituições fraudulentas e pequenos investidores crédulos.
Porém o teatro da cidade de Colônia queria, de qualquer jeito, encenar a peça. E, ainda durante os ensaios, a dramaturga e prêmio Nobel de Literatura foi entregando novas passagens. Difícil uma peça que seja mais atual. E que faça mais furor.
Contagem regressiva
Logo de início, o diretor Nicolas Stemann nos esclarece que esta já é a terceira estreia: cada noite é diferente da anterior. O elenco lê o texto à primeira vista, explica, a montagem emprega uma "máquina de execução textual". A coisa soa trabalhosa.
Um mostrador digital no lado superior esquerdo do palco exibe o número 99. Quer dizer: 100 páginas de texto menos uma. Trata-se de uma contagem regressiva. Nas próximas horas, folhas de manuscrito vão voar pelo chão, ao fim elas cobrirão todo o palco. Quando o placar chegar a zero, teremos conseguido.
Não estão previstas pausas, em compensação pode-se sair para o foyer a qualquer momento, pela porta aberta. Meus vizinhos estão bem humorados – como eu. "Eu sei que vou ter que ficar sentada três horas e meia, mas acho que dá", diz a senhora. "Estou aberto para surpresas", diz seu acompanhante.
"Seu capital vive bem"
A cena está abarrotada de adereços: mobiliário, aparelhagem técnica, um cabideiro, microfones, instalações de vídeo. Um "Coro dos pequenos investidores" entra em cena, um "Coro dos anciãos" entoa: "Ai, ai, ai!".
As primeiras páginas passam rápido, logo o mostrador está em 90. Primeiro aplauso na página 86. Gosto do texto de Jelinek, sempre tive um fraco por seu sarcasmo, seu veneno, suas formulações buriladas.
Página 76: no palco, os atores usam máscaras de lobo. Vozes sedutoras nos asseguram: "Seu capital vive bem, numa pequena ilha, lá ele não está sozinho. Seu dinheiro está conosco, você pode visitá-lo a qualquer hora". Como uma cascata, o texto de Jelinek jorra sobre a plateia. Eu preciso urgentemente de movimento.
A cor do dinheiro
Êxodo gradual
Página 58: algumas fileiras se esvaziam, as pessoas saem da sala. Talvez porque na cena alguém acabou de dizer: "O dinheiro tem fome"!? Os primeiros espectadores retornam, trazendo cerveja.
Página 51: êxodo em massa. Eu saio junto. O foyer da pausa está cheio de gente procurando descanso. Hora de um balanço parcial.
A primeira espectadora a que me dirijo é funcionária bancária, pertencendo, portanto, ao grupo dos atingidos. Três horas e meia de insulto aos bancos? Para ela, chega, não vai esperar o fim da peça.
Entre os demais, opiniões contrastantes. Alguns estão irritados com as muitas repetições textuais, outros acham boa a diversão. Outros têm até um pouco de vergonha. "Eu me senti como uma ovelha", comenta uma espectadora.
Vigas e balões
De volta à sala de espetáculos, dou-me conta de que perdi 15 páginas! Então, primeiro orientar-me. Ah! Agora eles usam máscaras de papelão, modelo Obama, modelo Ackermann. Acompanhados por sons de zumbidos e danças de dervixes. A costura da calça de um esperto banqueiro teatral arrebentou no tumulto.
Página 32: atentado máximo contra os tímpanos. Gigantescas vigas de ferro se chocam no palco. E aí – alívio – lindos balões de gás pairam silenciosos no ar. Mas, ah, o tranquilo voo não dura muito. Com um alto estrondo, logo o primeiro balão já exala a alma.
A peruca de Elfriede
Elfriede Jelinek
Página 19: minha atenção se dispersa um pouco. Não vá esmorecer agora! Meus vizinhos tampouco dão sinais de fraqueza.
Página 2: exaustão. Mas também a certeza de haver participado de uma noite de teatro fora do comum. "Desça do seu cavalo de arrogância!", nos conclama a autora. Não, para isso eu realmente não estou mais em condições.
Mas, como todos os outros, eu me levanto de um salto e aplaudo – foi realmente fantástico! Mas o diretor Stemann exibe uma peruca feminina, com topete e marias-chiquinhas... então... se essa não é... mas claro! Elfriede Jelinek! Quer dizer que ela está mesmo conosco, pelo menos simbolicamente.
Autor: Cornelia Rabitz
Revisão: Rodrigo Abdelmalack