por Fátima Oliveira, em O Tempo
Às solicitações para escrever sobre a H1N1, influenza A, resisti enquanto durou a espetacularização da doença. Não opino em momento de crise sanitária para não correr o risco de involuntariamente atropelar as autoridades sanitárias. O manejo da epidemia no Brasil tem sido competente. Meus cumprimentos! Do lugar de formadora de opinião, sigo a ética da responsabilidade ao discorrer sobre qualquer tema. Sei exatamente qual é o meu lugar numa epidemia: fazer a parte que me toca na atenção, segundo mandam as autoridades responsáveis pelo bem-estar comum.
São delas o papel e o lugar, pois detêm a mirada global e a responsabilidade da atenção. Cabe aos serviços e profissionais de saúde o cumprimento do dever da atenção condigna. Acabou-se o frege de black-tie! Quase três meses após diagnosticados os primeiros casos, a transmissão do vírus tornou-se sustentada no Brasil - como na Argentina, Austrália, Canadá, Chile, Estados Unidos, México e Reino Unido -, exigindo mudança de conduta frente a novos casos. O vírus rompeu as fronteiras de um desejado cordão sanitário, está flanando por aí e qualquer pessoa pode pegar. Só nos resta redobrar cuidados pessoais de higiene.
O H1N1, influenza A, é uma doença respiratória aguda (gripe), causada pelo vírus A (H1N1), novo subtipo do vírus da influenza, transmitido de pessoa a pessoa por tosse, espirro e contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas.
Eis as novas coordenadas, conforme o Ministério da Saúde: sintomas leves de gripe devem ser atendidos em postos, ambulatórios e consultórios particulares, como em qualquer gripe; e pessoas com fator de risco para complicações (hemoglobinopatias, diabetes, cardiopatias, pneumopatias, doenças renais crônicas e gravidez) serão monitoradas por quem lhes atendeu. O tratamento será definido pelos sintomas e independe de exames laboratoriais.
As evidências “sugerem que o vírus da influenza A (H1N1) apresenta uma dinâmica de transmissão semelhante à da influenza sazonal”; a internação está indicada exclusivamente nos casos de doença respiratória aguda grave - qualquer idade com doença respiratória aguda: febre superior a 38º C, tosse e falta de ar, acompanhada ou não de dor de garganta, manifestações gastrointestinais, desidratação e inapetência, independentes de alterações laboratoriais e radiológicas. “O exame laboratorial para diagnóstico específico de influenza A somente está indicado para: acompanhar casos de doença respiratória aguda grave e em amostras de casos de surtos de síndrome gripal em comunidades fechadas, segundo orientação da vigilância epidemiológica”.
Nem tudo é desgraça. Há casos hilários da classe média metida a rica e dos podres de rico quando chegam ao SUS numa Hilux e “p da vida” porque não há estacionamento para suas joias! Jamais reclamam que seus hospitais de ricos lhes batem as portas na cara nas epidemias. Um colega irado telefonava: “é um absurdo um hospital público fechar uma ala para atender essa ricaiada que tem casa em Miami e vive pra cima e pra baixo de avião”. Um advogado exigia o “exame da gripe suína” para todos de uma escola de ricos, colhidos por mim! Num pronto-socorro! Esturrava que eu era paga com os impostos deles e teria de fazer o que eles queriam! Um portenho na hora do jogo Cruzeiro X Estudiantes recusou-se a ir ao ambulatório de H1N1 influenza A e acionou a polícia, como se ela pudesse passar por cima da autoridade sanitária numa epidemia!
Ninguém merece, mas acontece!
Publicado em
O Tempo: 21.07.2009 :
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2 comentários:
Fátima, quando seu colega telefonava p da vida dizendo: "é um absurdo um hospital público fechar uma ala para atender essa ricaiada que tem casa em Miami e vive pra cima e pra baixo de avião", ele tinha alguma razão. A epidemia chegou aqui com ares de mundo globalizado mesmo, com essa gente endinheirada de Minas que não só tem casa em Miami, mas passa férias e lua de mel naquele balneário brega, que envergonha os mexicanos, chamado de Cancun, um enclave americano em território mexicano, que enche os olhos dos novos-ricos. Os 2 casos pioneiros em Minas era um casal que passava a lua de mel em Cancun, se não estou enganado.
Mas o seu colega estava errado quando dizia que a conduta de um hospital estatal, o Hospital das Clínicas, estava errada. Reservar um andar para a gripe se reflete em menos leitos para outras doenças, talvez até mais graves, mas não epidêmicas. Ele ignora que uma epidemia é uma desgraça democrática: atingirá a todos. A medida do hospital não poderia ser outra.
Um abraço,
Ana Paula Tardelli
Parabéns pela garimpagem desse artigo e parabéns também à autora pelo discernimento sem preconceitos"
cnb
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