Federico Fellini (Rimini, 20 de janeiro de 1920 — Roma, 31 de outubro de 1993) foi um dos mais importantes cineastas italianos. Fellini ficou eternizado pela poesia de seus filmes, que mesmo quando faziam sérias críticas à sociedade, não deixavam a magia do cinema desaparecer. Trabalhou suas trilhas sonoras, na grande maioria das vezes com o grande compositor Nino Rota.
Vida
Federico Fellini, Cavaleiro da Grande Cruz (título de honra concedido pelo Governo Italiano), nascido em 20 de Janeiro de 1920 e falecido em 31 de Outubro de 1993. Conhecido pelo estilo peculiar que funde fantasia e imagens barrocas, ele é considerado uma das maiores influências e um dos mais admirados diretores do século XX.
Em agosto de 1918, sua mãe, Ida Barbiani (1896-1984) se casa com um vendedor viajante chamado Urbano Fellini (1894-1956) em cerimônia civil (com a cerimônia religiosa no mês de janeiro seguinte). Federico Fellini era o mais velho de três filhos (depois vieram Riccardo e Maria Maddalena). Urbano Fellini era nativo de Gambettola, onde, por muito tempo, Federico costumou passar as férias na casa dos avós.
Nascido e criado em Rimini, as experiências de sua infância vieram a ter uma parte vital em muitos de seus filmes, em particular em "Os Boas Vidas", de 1953; "8½" (1963) e "Amarcord" (1973). Porém, é errado pensar que todos os seus filmes contêm autobiografias e fantasias implícitas. Amigos próximos, como os roteiristas de TV Tulio Pinelli e Bernardino Zapponi, o cinematógrafo Giuseppe Rotunno e o designer de cenário Dante Ferretti, afirmam que Fellini convidava suas próprias memórias pelo simples prazer de narrá-las em seus filmes.
Durante o regime fascista de Mussolini, Fellini e seu irmão Riccardo fizeram parte de um grupo fascista que era obrigatório para todos os rapazes da Itália: o "Avanguardista". Ao se mudar para Roma em 1939, ele conseguiu um trabalho bem remunerado escrevendo artigos em um programa semanal satírico muito popular na época – o Marc’Aurelio. Foi nesse período em que entrevistou o renomado ator Aldo Fabrizi, dando início a uma amizade que se estendeu para a colaboração profissional e um trabalho em rádio. Em uma época de alistamento compulsório desde 1939, Fellini sem dúvida conseguiu evitar ser convocado usando de artifícios e truques de grande perspicácia. O biógrafo Tulio Kezich comenta que, apesar da época feliz do Marc’Aurelio, a felicidade mascarava uma época imoral de apatia política. Muitos que viveram os últimos anos sob o regime de ditadura de Mussolini, vivenciaram entre uma esquizofrênica imposição à lealdade ao regime fascista e uma liberdade pura no humor.
Fellini conheceu sua esposa Giulietta Masina em 1942, casando-se no ano seguinte em 30 de outubro. Assim começa uma grande parceria criativa no mundo do cinema. Em 22 de março de 1945, Giulietta caiu da escada e teve complicações em sua gravidez, resultando em um parto prematuro e complicado de um menino que ganhou o nome de Pierfederico ou Federichino (Federiquinho), mas que faleceu com um mês e dois dias de vida. Tragédias familiares os afetaram profundamente, como é percebido na concepção de "A Estrada da Vida" de 1954.
O italiano foi também um cartunista talentoso. Produziu desenhos satíricos a lápis, aquarela, canetas hidrocor que percorreram a América do Norte e Europa, e hoje são de grande valia a colecionadores (muitos de seus rascunhos foram inspirados durante a produção dos filmes, estimulando idéias de decoração, vestimentas, projeto do set de filmagens, etc.). Com a queda do fascismo em 25 de julho de 1943 e a libertação de Roma pelas tropas aliadas em 4 de Junho de 1944, num verão eufórico, Fellini e seu amigo De Seta inauguraram o Shopping das Caretas, desenhando caricaturas dos soldados aliados por dinheiro. Foi quando Roberto Rossellini tomou conhecimento do projeto intitulado "Roma, Cidade Aberta" (1945) de Fellini e foi ao seu encontro. Ele queria ser apresentado a Aldo Fabrizi e colaborar com o script juntamente com Suso Cecchi D'Amato, Piero Tellini e Alberto Lattuada. Fellini aceitou. Em 1948, Fellini atuou no filme de Roberto Rossellini "Il Miracolo", com Anna Magnani. Para atuar no papel de um vigarista que é confundido com um santo. Fellini teve seu cabelo tingido de loiro.
Fellini também escreveu textos para shows de rádio e textos para filmes (mais notavelmente para Rossellini, Pietro Germi, Eduardo De Filippo e Mario Monicelli) também escreveu inúmeras anedotas muitas vezes sem crédito, para conhecidos comediantes como Aldo Fabrizi. Uma fotonovela de Fellini chamada "Uma Viagem para Tulum" foi publicada na revista Crisis, com arte de Milo Manara, e publicada como gibi pela Catalan Communications, no mesmo ano.
Nos anos de 1991 e 1992 trabalhou junto com o diretor canadense Damian Pettigrew para ter o que ficou conhecida como "a mais longa e detalhada conversa jamais vista sobre filmes", que depois serviu de base para um documentário e um livro lançados anos mais tarde: "Fellini: Eu sou um grande Mentiroso". Tullio Kezich, crítico de filme e biógrafo de Fellini descreveu esses trabalhos como sendo "O Testamento Espiritual do Maestro".
Em 1993, recebeu um Oscar de Honra em reconhecimento de suas obras que chocaram e divertiram audiências mundo afora. No mesmo ano ele morreu de ataque cardíaco em Roma, aos 73 anos (um dia depois de completar 50 anos de casado). Sua esposa, Giulietta, morreu seis meses depois de câncer de pulmão em 23 de março de 1994. Giulietta, Fellini e Pierfederico estão enterrados no mesmo túmulo de bronze esculpido por Aldo Pomodoro. Em formato de barco, o túmulo está localizado na entrada do cemitério de Rimini – sua cidade natal.
O aeroporto da cidade de Rimini também recebeu seu nome.
Carreira cinematográfica
"Mulheres e Luzes" ("Luci del varietà"), de 1950, foi o primeiro filme de Fellini co-dirigido pelo experiente diretor Alberto Lattuada. Uma comédia charmosa sobre uma turma de saltimbancos itinerantes. O filme foi um estimulante para Fellini, na época com 30 anos, mas sua fraca distribuição e críticas fracas tornaram do filme um motivo de preocupação e um desastre que levou a produtora à falência, deixando Fellini e Lattuada com dívidas que se estenderam por uma década.
O primeiro filme que Fellini dirigiu sozinho foi "Abismo de um sonho" ("Lo sceicco bianco", 1952). Estrelado por Alberto Sordi. O filme é uma releitura de uma fotonovela - comuns na Itália daquela época - de Michelangelo Antonioni feita em 1949. O produtor Carlo Parlo Ponti pagou a Fellini e Tullio Pinelli para desenvolver a trama, mas achou o material muito perplexo. Assim, o filme foi passado para Alberto Lattuada, que também recusou. Fellini então resolveu pegar o desafio e dirigiu o filme sozinho.
Ennio Flaiano (que também co-escreveu "Mulheres e Luzes") trabalhava um novo texto com Fellini e Pinelli. Juntos moldaram um conto de um casal recém-casado cujas aparências de respeito são devastadas por fantasias da esposa inexperiente (papel muito bem retratado por Brunella Bovo). Pela primeira vez, Fellini e o roteirista Nilo Rota trabalharam juntos em uma produção de um filme. Eles se encontraram em Roma no ano de 1945 e a parceria durou com sucesso até a morte de Rota durante o making of do filme "Cidade das Mulheres" em 1980. Essa relação artística foi memoravelmente descrita como mágica, empática e irracional.
Em 1961, Fellini descobriu através de um psicanalista os livros de Carl Jung. As teorias de Jung de anima e animus, o papel dos arquétipos e do coletivo inconsciente foram vigorosamente explorados no filme "8½", "Julieta dos Espíritos", "Satyricon", "Casanova" e "Cidade das Mulheres".
O reconhecido e aclamado Fellini ganhou quatro Óscares na categoria de melhor filme estrangeiro (vide filmografia), uma Palma de Ouro no Festival de Cannes com o filme "A Doce Vida", considerado um dos filmes mais importantes do cinema e dos anos 1960. Foi neste filme que surgiu o termo "Paparazzo", que era um fotógrafo amigo de Marcello Rubini, interpretado por Marcello Mastroianni.
Os filmes de Fellini renderam muitos prêmios, dentre eles: quatro Oscars, dois Leões de Prata, uma Palma de Ouro, o prêmio do Festival Internacional de Filmes de Moscou e, em 1990, o prestigiado Prêmio Imperial concedido pela Associação de Arte do Japão, que é considerado como um Prêmio Nobel. Este, cobre cinco disciplinas: pintura, escultura, arquitetura, música e teatro/filme. Com este prêmio, Fellini juntou-se a nomes como Akira Kurosawa, David Hockney, Balthus, Pina Bausch, e Maurice Béjart.
Legado
Com uma combinação única de memória, sonhos, fantasia e desejo, os filmes de Fellini têm uma profunda visão pessoal da sociedade, não raramente colocando as pessoas em situações bizarras. Existe um termo "Felliniesco" que é empregado para descrever qualquer cena que tenha imagens alucinógenas que invadam uma situação comum.
Grandes cineastas contemporâneos como Woody Allen, David Lynch, Girish Kasaravalli, David Cronenberg, Stanley Kubrick, Martin Scorsese, Tim Burton, Pedro Almodóvar, Terry Gilliam e Emir Kusturica já disseram ter grandes influências de Fellini em seus trabalhos. Woody Allen, em particular, já usou o imaginário e temas de Fellini em vários de seus filmes: "Memórias" evoca "8½", e "A Era do Rádio" é remanescente de "Amarcord", enquanto "Broadway Danny Rose" e "A Rosa Púrpura do Cairo" inspirados em "Mulheres e Luzes" e "Abismo de um Sonho" respectivamente. O cineasta polonês Wojciech Has, autor dos filmes "O manuscrito encontrado em Saragoça" (1965) e "Sanatorium Pod Klepsydrą" (The Hour-Glass Sanatorium - 1973), são notáveis exemplos de fantasia modernista e foi comparado à Fellini pela "Luxúria pura de suas imagens".
O cantor escocês de rock progressivo Fish lançou em 2001 um álbum de nome Fellini Days, com letras e músicas totalmente inspiradas nos filmes de Fellini.
O trabalho de Fellini inspirou fortemente musicalmente e visualmente a banda "B-52’s". Eles citaram que o estilo de cabelos bufantes e de roupas futuristas e retrô vem de filmes como "8½", por exemplo. A inspiração em Fellini vem também no último álbum da banda, intitulado "Funplex", (2008) com uma música que leva o nome de um de seus filmes "Juliet of the Spirits", ou, "Julieta dos Espíritos" ("Giulietta Degli Spiriti, 1965)".
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